Apesar de existir um crescente reconhecimento social das temáticas ambientais, 2009 foi, a exemplo dos demais anos anteriores imediatos, um ano marcado por pouco progresso verdadeiramente ecológico.
Nos Açores, os investimentos ao nível da conservação da natureza foram especialmente focados na sua valorização enquanto recurso turístico em detrimento, muitas das vezes, do seu valor intrínseco natural e, até, da sua ligação à comunidade local.
Identificaram-se em 2009, porém, já alguns investimentos importantes como a erradicação de determinadas plantas invasoras ou a protecção de espécies biológicas ameaçadas, acções que se deveriam maximizar, sem que, no entanto, se descurassem novas ameaças, como é o caso da constante utilização de plantas invasoras em obras públicas.
No que respeita à crise ambiental que vivemos há várias décadas, associada aos impactes ambientais relacionados com as actividades antrópicas e à progressiva escassez dos recursos naturais, não se identificaram outras medidas que não as que ainda não passaram do simbolismo.
A gestão da água continua a funcionar numa lógica de abastecimento, sem que este próprio seja de qualidade, dadas as avultadas perdas e elevados custos dos sistemas, para além da, muitas vezes, baixa qualidade da água fornecida.
Em 2009 ocorreu falta de água em cinco das nove ilhas dos Açores, algumas das quais com alguma severidade. A promoção junto dos consumidores de medidas eficazes de captação de água nos edifícios, eficiência no consumo e reutilização, seria um importante passo para uma gestão mais descentralizada e responsável deste recurso.
No que respeita à gestão de resíduos encontramo-nos, ainda, numa época onde o sistema de tratamento de resíduos funciona precariamente na generalidade das ilhas dos Açores, existindo, inclusive, diversas lixeiras a céu aberto na Região.
Quando todo o esforço deveria ser efectuado na prevenção de resíduos através da sua redução e reutilização, a bem de um modelo consumista e capitalista contrário ao apregoado desenvolvimento sustentável, continua-se apenas a descortinar os resíduos apenas como um produto que urge rentabilizar economicamente, sem que a sua problemática seja combatida na origem.
Têm-se, no entanto, verificado alguns exemplos interessantes de recolha selectiva em algumas localidades ou municípios, se bem que na sua maioria tenham ainda valor pontual ou simbólico.
Na gestão da energia, por se tratar de um recurso eminentemente económico e relacionado socialmente com o aquecimento global, começam a surgir respostas à crise ambiental no que diz respeito à eficiência energética de edifícios, à diversificação de fontes de produção através de energias renováveis e à descentralização da produção energética, se bem que estas acções sejam ainda incipientes. Existe no entanto, a exemplo dos outros demais recursos, um largo caminho a percorrer na mudança de hábitos de consumo de energia e, acima de tudo, na adopção de novos sistemas de mobilidade nos transportes, uma vez que estes são responsáveis por grande parte do consumo de energia.
É precisamente no campo social que menos se tem investido, quando esta poderia ser a solução da maioria dos problemas ambientais na sua fonte. Os processos de decisão continuam a decorrer de uma forma pouco participada, não assumindo os seus promotores que o sucesso das suas opções deveria ser proporcional ao envolvimento, cooperação e capacitação da sociedade na resolução de uma crise ambiental que é de todos e não só dos negócios de alguns.
E foi precisamente no campo social que 2009 deixou melhores resultados ambientais, com manifestações populares significativas em diversas temáticas, como no envolvimento de centenas de populares no voluntariado em prol do salvamento de cagarros e nas petições contra a introdução da sorte de varas, que demonstram uma sociedade cada vez mais atenta e envolvida na resolução das questões ambientais.
Diogo Caetano