Balanço Ambiental do Ano de 2010

Mais que nunca, em 2010, foi recorrente a presença das temáticas ambientais nas demais formas de comunicação. No entanto, nem sempre foram bem usados os valores ambientais, ou pelo menos usados em prol da causa pública que o assunto requer.
Quantas vezes foi usado e abusado utilizado o chamado branqueamento ecológico - que tem como objectivo dar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável dos seus serviços ou produtos, tendo a organização uma actuação contrária aos interesses e bens ambientais – em prol do aproveitamento pessoal, comercial ou político de muitos actores sociais?
Os Açores não se manifestaram excepção a esta situação, sendo comum grandes outdoors que proclamam produtos alegadamente amigos do ambiente ou, por exemplo, governantes que advogam grandes responsabilidades ambientais em determinadas atitudes, quando noutras as esquecem.
Para quem, apesar de tudo, julgar que vivemos numa região em harmonia com a natureza, veja, em 2010, o caso do caminho de acesso à Fajã do Calhau que se arrasta há anos sem fim anunciado, as barracas – como na praia do degredo ou da Pedreira - e o excesso de cimento na orla costeira, como as alterações aos areais e linha de costa como nas praias de Água d’ Alto, ou as ribeiras que agora são caminhos de acesso à obra da SCUT ou cujo leito foi confinado a manilhas que a natureza um dia se encarregará de extravasar.
Se, uma vez que o dinheiro é de todos nós, somos bons a destruir, também o somos a realizar o chamado branqueamento ecológico, como, por exemplo, é recorrente na política de galardões praticada nos Açores, como foi o caso das Maravilhas de Portugal, onde foram gastos milhões de euros a promover um cenário edílico que não existe nos termos muitas vezes difundidos. Alguém se terá lembrado de realizar eventos de promoção igualmente sóbrios e dignos, investindo mais na conservação da natureza e na qualidade ambiental, como sendo o que temos de melhor.
Continuaremos a visitar as Sete Cidades, agora maravilha de Portugal, onde pululam ruidosas motos em plena área protegida ou onde é utilizado um miradouro que não tem condições para receber devidamente autocarros, com o mesmo ânimo leve como até aqui? Não deveriam os galardões serem instrumentos de reconhecimento, bem como de acrescidas responsabilidades?
Não parece que é isso que se passa também com o galardão Eco-Freguesias, criado para retirar possível protagonismo regional ao Projecto Limpar Portugal, que foi atribuído a freguesias onde abundam depósitos de lixo e que, curiosamente, apresentaram mais lixo no final do concurso que no seu início.
Talvez estejam as autoridades à espera de uma incineradora – arma de branqueamento ecológico massiva utilizada pelo governo e autarquias para enganar os cidadãos – que disponha de pernas e se desloque pelos pastos, ribeiras e canadas a recolher todos os resíduos abandonados para os queimar, contrariando todos os princípios de uma cidadania responsável e da educação ambiental.
Será pela mesma falta de educação ambiental que entidades públicas promovem atitudes como o natal europeu, usando, em locais públicos, presépios pejados de leiva ou musgão, promovendo péssimos exemplos para o cidadão? Ou será por algum impunidade ou engenho, como acontece no caso da construção em locais inapropriados por entidades públicas, como é o caso do laboratório da paisagem das Furnas?
Mas é precisamente na área da educação ambiental que, ao arrepio do plano do Governo dos Açores sufragado para a presente legislatura, são discretamente encerradas Ecotecas em diversas ilhas. É com o propósito da educação ambiental que são promovidas Eco-escolas sem o devido enraizamento do seu objectivo ecológico e social na comunidade escolar, alvejando apenas finalidades estatísticas?
Paradoxalmente, ou não, campanhas onde são envolvidas centenas de voluntários, como é o caso da campanha SOS Cagarro, são vistas por entidades governamentais como objectos estatísticos de promoção, desrespeitando a sociedade civil e, em concreto, as associações, cultivando totalitarismos que chegam a colocar em causa o esforço dos voluntários destas mesmas.
É também, numa demonstração de aguçado branqueamento ecológico, que o Governo dos Açores se prepara para levar à Assembleia Legislativa um regime de protecção da biodiversidade, que viabiliza a caça de patos migratórias, alguns dos quais raramente observados na Região, permitindo a eliminação, para fins recreativos, de animais que atravessam o atlântico à procura das nossas ilhas e que podem ser um importante recurso para a observação de aves, actividade lúdica e turística em crescendo a nível mundial.
Apesar de ter sido conhecido em 2010 que uma autarquia dos Açores gastou, por ajustes directos, cerca de meio milhão de Euros em touradas, vivemos em tempos em que a crise económica marca os nossos dias, esquecendo, muitas vezes, as nossas verdadeiras riquezas, as quais se deseja que ser mais acarinhadas e valorizadas em 2011, pelo seu valor e sem recurso a branqueamentos.

Votos de um 2011 mais ecológico.

Diogo Caetano

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